Comunicado - Edição Londres
A ideia de realizar um projeto que pudesse promover a arte e o talentos dos falantes de língua portuguesa fora de suas pátrias, surgiu diante da admiração que eu tenho por esta tão rica e tão melodiosa língua. A luz acendeu ao contemplar, na cidade do Porto, a estátua do nosso primeiro imperador D. Pedro I, o mesmo D. Pedro IV, Rei de Portugal, que lutou com tanta bravura para defender os dois países. Quando, literalmente, vi o coração do nosso imperador/rei quase chorei de emoção. Naquele momento, e motivada pelo amor que me faz dividir o tempo entre duas pátrias que me conquistaram o coração, decidi criar algo que pudesse aproximar pessoas que acreditam no poder curador e renovador da arte. Somente através da cultura e da música, os mais poderosos elementos de difusão de uma língua e de aproximação de povos, uma nação pode criar alicerces capazes de influenciar e refinar o caráter de homens de bem. Como disse um filósofo “Conhece-se um governante pela música que o seu povo escuta”.
Por ser amante das culturas brasileira, portuguesa, caboverdiana, moçambicana e dos demais países de língua portuguesa, passei a crer que a disseminação da poesia, da arte e desta iniciativa, poderia ser parte da minha missão durante esta efêmera passagem terrena. Normalmente, me dedico 100% ao que faço e quando o que eu faço envolve poesia e música, dedico também 100% da minha alma que a recompenso, para o seu deleite, com o som de bons acordes. Estas foram as principais razões que motivaram a realização do projeto "Pátria Língua-Portuguesa.
Em 35 anos de atividades nesta área e mais de onze mil contratos assinados (palco, som, luz, espaços, músicos, artistas, dançarinas, seguranças, transporte, trios eléctricos, entre outras providências) NUNCA me deparei com um evento tão atípico. Em todas as edições desse projeto, enfrentamos dificuldades próprias da reunião de várias cabeças pensantes e executantes, mas a edição de 2018, na cidade de Londres, foi peculiar. Para começar NÃO entrou um ÚNICO real ou uma libra, em dinheiro de instituições públicas, nem sequer para custear água ou o transporte local para músicos e palestrantes. Porém, o fato de termos ostentado as marcas, (Embratur, Embaixada do Brasil, Governo da Bahia, Prefeitura Municipal de Salvador que deram apenas apoio institucional) despertou a a atenção de alguns profissionais contratados e desinformados sobre o funcionamento das leis de incentivo. Acreditando que houve superfaturamento e aprovação através da Lei Rouanet, uma ideia tão singela e motivada pelo idealismo de aproximar falantes de língua portuguesa, foi atacada sem razão de ser. E aquilo que eu maldisse até a hora do evento, foi de suma importância para preservar a imagem de uma iniciava tão rica e tão bem intencionada. Nunca pensei que eu iria elevar os meus pensamento e constantemente repetir: "obrigada meu Deus por não ter permitido entrar nenhum centavo de verba pública neste projeto".
Dia de eleição presidencial, as 8h da manhã, desembarquei no aeroporto de Heathrow peguei um taxi, deixei malas no hotel e fui, debaixo de chuva, coordenar duas equipes de planfletagem, uma no Piccadilly Circus e outra em frente a embaixada do Brasil. Numa época eleitoral com a política conturbada, economia estagnada em que, para economizar tempo, não submetemos o projeto a nenhuma lei de incentivo, o fato de não termos recebido nenhuma verba de forma direta ou indireta, foi a nossa valia. Mais uma vez, a força soberana que rege este universo em que vivemos, regeu este projeto, que teve esta edição realizada à base de permutas e de parcerias. Somente com seriedade, comprometimento, muito trabalho e amor pelo o que se faz, fatores imprescindíveis para se obter êxito em qualquer ação, conseguimos alçar os louros da vitória. E não ter recebido nenhum centavo de órgãos públicos, neste caso específico, foi o que salvaguardou esta iniciativa! Promover, simultaneamente e no mesmo local, a arte de mais de 50 profissionais de níveis sócio-culturais distintos, foi mais que um desafio, foi uma verdadeira proeza! E que venha 2019!
Marta Salles